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Zé Henrique de Paula 

“Eu acredito que contar as nossas histórias, primeiramente para nós mesmos e depois uns para os outros e para o mundo, é um ato revolucionário.” (Janet Mock, escritora, apresentadora e ativista de direitos humanos.)

 

 

Uma das características definidoras da identidade de todo ser humano é a sua voz.

Não somente a parte física dessa voz - seu timbre, suas entonações, sua prosódia e sotaque - mas também qual é a natureza dessa voz e o que ela quer dizer para o mundo.

 

Tragicamente, a oportunidade de dar vazão à própria voz não é um direito concedido a todos. Por ignorância, preconceito, intolerância e incompreensão diante do outro, pessoas são privadas de expressar sua identidade e sentem-se impelidas, por instinto de sobrevivência, a abafar essa voz. Mas alguém que não pode ser quem é, que não pode livremente dar vazão à sua voz interior, é um ser incompleto, de quem foi roubada parte da existência, parte da natureza, da identidade, da vida em si.

 

Esta peça é sobre tirar de um armário as nossas histórias e mostrá-las com orgulho e sem receios. É sobre contar quem nós somos e, especialmente, quem nós fomos. Durante muito tempo, a sombra e a margem foram os únicos lugares permitidos aos homossexuais. Vivendo nas bordas da sociedade, sem voz e sem direitos, formaram comunidades de apoio mútuo e acolhimento, criaram novas famílias e forjaram existências onde afeto, dignidade e tolerância passaram a existir novamente. Essa é a nossa história - dos nossos amores, desejos, dores e alegrias, das nossas vidas e das nossas mortes.

 

Esta peça é a nossa voz, inteira, no palco. Palavra por palavra.

 

Queremos que vocês nos ouçam.

 

Nós estamos aqui.

Zé Henrique de Paula

Bruno Fagundes

Na minha vida profissional fui surpreendido, algumas vezes, por uma espécie de ‘chamado’; uma certeza férrea que direcionou meus passos seguintes rumo a algo que acreditava ser transformador.

 

Todas as vezes que isso aconteceu – e foram algumas – eu, simplesmente, abandonei tudo e foquei toda minha energia na sua concretização, sem freios. Como uma flecha rasgando o alvo com fúria instintiva. Sem exceção, fui chamado de louco, ousado, sonhador, mas esses tiros foram tão certeiros que revolucionaram minha carreira.

 

Dessa vez, parece não ser diferente. ‘The Inheritance’ de Matthew López tirou meu sono em 2019, na Broadway. E, finalmente, depois de todos esses anos, especialmente áridos para o Teatro, estamos aqui, prestes a explodir essa história do peito, nos palcos da minha cidade natal. Me associei ao meu amigo e diretor Zé Henrique de Paula que compartilhou comigo dessa insônia motivada pela idealização de um dos maiores desafios da nossa carreira. Com sua criatividade excepcional, tutela assertiva e doce, reunimos um grupo extraordinário para levantar isso em tempo recorde.

 

Se a flecha vai acertar o alvo, nós não sabemos. Mas, uma coisa eu sei, esse projeto já me transformou. E já é revolucionário apenas pela sua intenção de existir.

 

Obrigado por estar aqui conosco. Esse encontro é um importante lembrete sobre nossa humanidade – sobre o fio que nos une na emoção que é estar desconectados do mundo voraz lá de fora e em comunhão, compartilhar desse momento único e efêmero.

 

Essa é nossa herança ancestral de ouvintes de histórias. E essa é uma história que vale a pena ser contada. Te desejo um excelente momento no Teatro.

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